Presidente pediu que Alexandre Tombini , do BC, tentasse explicar publicamente o 'mal-entendido'
Dilma diz que declarações em Durban foram mal interpretadas
(Ueslei Marcelino/Reuters)
Que o governo tenha optado por estimular o crescimento da economia em detrimento do controle da inflação, não é novidade. Nesta quarta-feira, no entanto, foi a primeira vez que
a presidente Dilma Rousseff deixou escapar sua preferência pelo Produto
Interno Bruto (PIB) ao controle da inflação, durante conversa com
jornalistas em Durban, na África do Sul, onde esteve para o encontro dos Brics.
Dilma afirmou que não concorda com políticas de combate à inflação que
mirem a redução do crescimento econômico. Preferir um a outro é um
problema, afinal, o crescimento da economia e o combate à inflação
precisam caminhar juntos.
Ao expor sua preferência pelo PIB, Dilma acendeu o rastilho de pólvora.
Na interpretação do mercado financeiro, o governo não se importa com
uma inflação levemente acima do teto da meta – de 6,5% ao ano. A
consequencia da frase presidencial foi o início de um movimento
especulativo sobre o futuro da taxa Selic, que o Copom volta a debater
entre os dias 16 e 17 de abril. Alguns dos que apostavam em elevação
passaram a considerar a possibilidade de manutenção.
Mas, segundo a presidente, sua frase foi mal interpretada – ou melhor,
manipulada. E o blog do Planalto divulgou uma nota desmentindo a frase
divulgada pela imprensa. "Foi uma manipulação inadmissível de minha
fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu
governo", afirmou a presidente.
Dilma também pediu que o presidente do Banco Central, Alexandre
Tombini, conversasse com jornalistas para desfazer o "mal-entendido". À Agência Estado,
Tombini afirmou que era preciso que o "mal-entendido fosse desfeito e
que não há tolerância em relação à inflação". Ele até usou o expediente
da insubordinação para consertar a frase de Dilma. "De inflação fala a
equipe econômica. Em relação à política de juros, fala o Banco Central",
disse.
Leia também: Banco de desenvolvimento dos Brics financiará infraestrutura2012, o ano em que o PIB do Brasil não aconteceu
Mercado entendeu o recado – De acordo com a nota,
Dilma decidiu se pronunciar após "tomar conhecimento de que agentes do
mercado financeiro estavam interpretando erroneamente seus comentários
como expressão de leniência em relação à inflação". As declarações da
presidente reduziram as apostas de elevação da Selic, a taxa básica de
juros da economia. As taxas futuras, que já caíam desde a abertura do
mercado, acentuaram o movimento imediatamente após as palavras da
presidente.
Com as declarações de Dilma, os analistas entenderam que o governo
acredita que a inflação no Brasil seja algo temporário e que o Banco
Central poderá adiar o início do aperto monetário. As palavras de Dilma,
na véspera da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, também
foram criticadas por alguns agentes, porque atrapalharia o esforço do
presidente do BC, Alexandre Tombini, em ancorar as expectativas do
mercado.
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