Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira, eleva projeções para o IPCA, índice oficial da inflação, em 0,9 p.p. e distancia ainda mais a projeção do centro da meta do BC, de 4,5%
Declaração de Dilma sobre inflação na reunião dos Brics causou rebuliço no mercado
(Alexander Joe/AFP)
O Banco Central (BC) elevou sua projeção de inflação acumulada em 12
meses acima de 5% para 2013 e 2014. Segundo o cenário de referência do
Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira, a
expectativa de inflação medida pelo IPCA (índice de preço ao consumidor
amplo, apurado pelo IBGE) para 2013 passou de 4,8% para 5,7%. Para o ano
seguinte, a elevação foi de 4,9% para algo entre 5,3% e 5,4%. Assim, a
tendência antevista pelo banco é o indicador se distanciar ainda mais do
centro da meta, de 4,5%.
Em 2011, o IPCA fechou no teto da meta, em 6,5%, e, no ano passado,
ficou em 5,84%. Com isso, confirmado o cenário traçado pelo BC (dólar a
1,95 real e taxa Selic a 7,25%), o centro da meta não terá sido atingido
ao longo de todo o mandato da presidente Dilma Rousseff.
De acordo com o relatório divulgado nesta quinta-feira, a projeção da
inflação deve recuar a partir do terceiro trimestre de 2013. A projeção
parte de 6,5% no primeiro trimestre de 2013, eleva-se para 6,7% no
segundo trimestre, reduzindo-se para 6,0% e 5,7% no terceiro e quarto
trimestre, respectivamente. Em 2014, o BC projeta uma tendência de
desaceleração da inflação, atingindo 5,2% no segundo trimestre e, a
partir de então, se posicionando entre 5,3% e 5,4% até o final do ano.
A mudança de postura da autoridade monetária do país vem um dia depois da desastrada declaração de Dilma, na cúpula dos Brics,
na África do Sul. Ao dizer que "não acredita em políticas de combate à
inflação que olhem a redução do crescimento econômico", Dilma sinalizou,
na interpretação de agentes do mercado, que a alta da Selic, a taxa
básica de juros, não está no horizonte. A fala causou alvoroço no mercado.
Além disso, Dilma citou o Ministério da Fazenda – e não o Banco Central
– no que diz respeito a "questões específicas de inflação". Mais tarde,
o presidente do BC, Alexandre Tombini, e a própria presidente da
República voltaram a falar com a imprensa para tentar reverter os
reflexos negativos das declarações no mercado. A presidente acabou
culpando a imprensa de manipular sua declaração.
Na segunda-feira, o relatório Focus do BC mostrou que o mercado aposta
em alta da taxa básica de juros em Selic para 8,5% em 2013. Atualmente, a
taxa está na mínima histórica de 7,25%.
O índice IPCA-15, considerado uma prévia da inflação, subiu 0,49% em março ante fevereiro -
uma desaceleração, em vista dos 0,68% de aumento mensal registrados em
fevereiro ante janeiro. O índice, contudo, registrou 2,06% de alta
acumulada no ano, bem acima dos 1,44% registrados no primeiro trimestre
do ano passado. Assim, o IPCA-15 avançou 6,43% em 12 meses e encosta no
teto da meta do BC, de 6,5%. O centro da meta estabelecida para inflação
no país é de 4,5%. Em fevereiro, o IPCA do mês cheio já havia chegado
próximo ao teto, ao acumular 6,31% em 12 meses.
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