Dos dezenove funcionários, dezessete pediram afastamento. Desses, doze são efetivos e estão sendo realocados em outras atividades
Marco Feliciano durante reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
(Andre Borges/Folhapress)
A permanência do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na Comissão de
Direitos Humanos e Minorias provocou uma debandada de servidores. Dos
dezenove funcionários que trabalhavam no colegiado, somente dois
ficaram. Alguns foram dispensados, outros pediram para sair. Com a
debandada, acredita-se que pode ocorrer um prejuízo de perda de
"memória" do trabalho na comissão, já que há risco de se perder o que
vinha sendo feito pelos servidores. Exercendo a presidência sob
protestos, Feliciano será levado ao Conselho de Ética pelo PPS pela
suspeita de uso de recursos da Casa em proveito próprio.
A assessoria do deputado do PSC afirmou que o processo de substituições
é "natural". Diz que alguns dos servidores pediram desligamento ao
longo do mês e outros foram dispensados para que o deputado pudesse
formar sua própria equipe. Dos dezessete funcionários que saíram, doze
são efetivos da Casa e estão sendo realocados em outras atividades. Os
dois servidores que ficaram pediram ao parlamentar para continuar.
Servidores que atuaram na comissão contam que sete deles deixaram os
cargos por diferenças ideológicas assim que Feliciano foi eleito. Outros
continuaram na expectativa de uma renúncia do pastor, o que teria
levado alguns aliados de Feliciano a tomá-los por "espiões".
Ex-presidente da comissão, o deputado Domingos Dutra (PT-MA) relata que
uma consequência da debandada é a perda da "memória" do trabalho
realizado. "Esse é mais um capítulo dessa tragédia que se abateu sobre a
comissão. As pessoas estavam ali há muito tempo e tinham todo o
conhecimento do que já foi feito", disse. Para ele, o PSC, que não teria
parlamentares ligados à causa, também não possui servidores com o
perfil necessário para o trabalho. A assessoria de Feliciano sustenta
que foi feita uma transição para se absorver o máximo possível de
informações dos funcionários que deixaram os cargos.
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Conselho de Ética — Na tentativa de retirar Feliciano do comando
da comissão, uma vez que ele se recusa a renunciar, o PPS decidiu
entrar na próxima terça-feira (2) com processo por quebra de decoro
parlamentar contra o pastor no Conselho de Ética da Casa.
O colegiado tem a possibilidade de decidir por um afastamento de
Feliciano da função. "Precisamos acabar de vez com a situação vexatória
vivida na Câmara desde a eleição do pastor para presidir o colegiado",
disse o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).
Para o PPS, além das acusações de racismo e homofobia, o pastor precisa
explicar denúncias de uso irregular de verbas de sua cota na Câmara.
Jordy alega que Feliciano paga com dinheiro público escritórios de
advocacia que lhe defendem em processos de interesse pessoal. O pastor
nega irregularidade. O deputado do PPS defendeu ainda como alternativa
uma renúncia coletiva dos integrantes da comissão de Direitos Humanos,
mas a ideia deve ser descartada pelos líderes porque a maioria do
colegiado é composta por apoiadores do pastor.
Feliciano respondeu republicando nas redes sociais um vídeo que veio a
público no ano passado em que Jordy estaria pedindo a uma namorada para
realizar um aborto. Na ocasião, o deputado do PPS diz que apenas estava
demonstrando cuidado com a gravidez, fruto de um relacionamento
fortuito.
Ignorando os protestos e as pressões por sua saída, Feliciano segue
tentando promover uma agenda na comissão. Sua assessoria divulgou que o
parlamentar, acompanhado de outros colegas, irá à Bolívia no dia 9 de
abril para tratar da situação dos 12 torcedores corintianos presos
devido à morte de um garoto durante um jogo da Copa Libertadores, em
Oruro. O pastor pretende ainda manter a agenda de audiências públicas no
colegiado.
(Com Estadão Conteúdo)
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