segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um Fragoroso Equívoco


Francimar Moreira

Movido por um forte esquema midiático, além de muitas manobras especulativas, os pre-ços de imóveis urbanos em Imperatriz têm experimentado aumentos astronômicos. É bem verdade que somos, indiscutivelmente, uma região promissora cujo desenvolvimento ainda está por acontecer. Em assim sendo, seria natural que nossos pedaços de chão, sejam urba-nos ou rurais, fossem necessariamente valorizados.

Ocorre, porém, que essa valorização se ampara numa expectativa de crescimento eco-nômico que não condiz com a realidade dos fatos, pois sabemos que o principal fator eco-nômico de Imperatriz é o comércio e essa atividade, por si só, nunca foi, em qualquer lugar do mundo e em nenhum período da historia da humanidade, alavanca para o desenvolvi-mento sustentável. O seu histórico é de mera influência cíclica, desde os tempos do escam-bo, e não houve fatos, econômicos ou socioculturais, que alterassem essa realidade.

A fragilidade de uma economia que se sustenta na atividade comercial reside na probabi-lidade de surgirem novos polos comerciais em cidades que antes constituíam mercados compradores, além, é lógico, de existir a possibilidade de migração do negócio propriamente dito. Uma conjuntura econômica consistente é a que se sustenta em atividades fixas e permanentes, como a agricultura e a pecuária, ou em grandes empreendimentos industriais e tecnológicos, de implantação difícil, porém de muita solidez.

Se há quase 40 anos, quando aqui cheguei, já me incomodava ver o Maranhão importan-do produtos agrícolas, imagine-se o que penso hoje, quando observo que até o arroz que consumimos vem da extrema com o Uruguai e um terço de seu custo final é de frete, enca-recendo brutalmente o seu preço. Citei o arroz como exemplo porque, paradoxalmente, o Maranhão já foi um grande produtor desse cereal e hoje não produz quase nada. Mas, infe-lizmente, até água mineral estamos importando muito, o que é lamentável.

É evidente que uma região com esse perfil econômico tem, necessariamente, um históri-co político e sociocultural que o tolera e alimenta. Logo, não se deve, sob pena de sofrer terríveis decepções, esperar milagres em curto e médio prazos. Isso porque, apesar de nosso fantástico potencial, é impossível, no mundo do conhecimento e da informação, advir uma forte onda desenvolvimentista sem que antes ocorram expressivos avanços nas áreas edu-cacionais e tecnológicas.

Quanto ao fato de estarem instalando ou prometendo instalar aqui grandes atacados, al-guns shoppings, hipermercados e redes de comércio varejista, não significa isso desenvolvi-mento. O comércio vive de explorar as riquezas e potencialidades já existentes e não tem, por si mesmo, a faculdade de gerar riqueza. Ao contrário do que muitos possam imaginar, grandes empreendimentos comerciais, principalmente financiados com dinheiro público e gozando de incentivos fiscais, são, na verdade, fatores de desestabilização econômica e soci-al. E, em nenhuma hipótese, fomentadores de progresso e bem estar coletivo, como tentam nos fazer crer políticos mentirosos.

A propósito deste tema, dois caipiras discutiam num ponto de ônibus, em uma cidade, aqui próximo de Imperatriz, há algum tempo, quando um disse para o outro:
– Cumpade, nossa cidade agora vai proguidi, homi, pois vão butar aqui um baita budegão, um tal de hipermercado, do grupu dos pessoá lá de riba, qui vai sê uma beleza! – foi, entretanto, admoestado pelo parceiro, que retrucou:
– Num se fie nisso, não, homi de Deus, pois isso é uma faca de dois ligumes!
– Como assim, cumpade, dá pro mode expricá dereito?!

Cumpade, bota sintido no qui vô lhe dizê, homi: imagine qui chegue aqui um baita desse bicho qui tu falou, com dinheiro dos imposto qui a gente pagamo e sem tumbem carecer pagar imposto... sabe o que vai se suceder, homi de Deus?!
– Sei, sim! – exclamou o parceiro, acrescentando:
– Vai criar uns duzento imprego na cidade. Num é muito baum isso, meu camarada?!

– Ói cumpade, criá os imprego é bom, sim! Mais o probrema são os efeito colaterá, cê intende?!
– Não, cumpade, eu não sei do qui diabo tu tá falano, não. Dá pro mode expricá?
– Efeito colaterá, homi, é um efeito não desejado, por exempro: tu traquina com uma cumade sua, por debaixo das moita e nove mês dispois nasce um muleque com a tua cara... Isso é um efeito colaterá. Intendeu, homi?!
– Acho que intendi! – Mais, afiná, qualé mermo o efeito colaterá qui o budegão vai trazê, cumpade?

– Homi, presta atenção! Pode inté criá os 200 imprego, cumo vosmicê disse, mais vai quebrar uns 600 pequeno e médio cumercianti. Digamu que esses futuros quebrados te-nham, em média, um impregado; são, entonce, 1.200 famía diretamente prijudicada. Seis vez o númro de imprego que você acha que vai ser criado. Mais tem muito mais efeito, ho-mi! Veja bem, o lucro que o budegão vai ter, num vai ficar aqui não, vai pras capitá ou inté pro estrangeiro. É aí que todos qui mora aqui sai perdeno, pois o dinheiro qui pudia circular aqui, nas mão do barbeiro, do pedreiro, do carpinteiro, dos piqueno e médio cumercianti, vira lucro do budegão e vai circulá nim outa paragem, homi! Logo, todos aqui serão prejudi-cadus, cê intendeu, agora?
– Marrumeno, cumpade, marrumeno!

– Mais num é só isso, não, homi de Deus! Tem muito mais: se os piqueno e médio vão quebrar, muitos vão ter que prucurá outa parage, dadonde possa sobrevivê; e logo nóis vai vê a cidade cheia de placas de VENDE e ALUGA, e os preços dos imóve dispencano. E tem ainda mais: os quebrado e disimpregado, além de seus fios, vão virar assartante e matar gente pra robá!... Bota sintido no qui tô te dizendo, homi, e a dispois vosmicê me fala!...

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Depreende-se da conversa acima que existem matutos por este Brasil afora que, mesmo analfabetos, raciocinam melhor do que muitos que ostentam um canudo de bacha-rel, mestre ou doutor. Aliás, aconteceu, recentemente, a mais inarredável prova do que es-tamos afirmando: um menino matuto, pobre e analfabeto, migrou de pau-de-arara de Gara-nhuns (PE) para São Paulo e virou Presidente da República. E mais: deixou em seu lugar, em homenagem à Dona Lindu – sua mãe – e a todas as mulheres do Brasil, uma mulher valente. E, mais ainda, deu um banho de cuia em generais e muitos doutores.
Imperatriz, 20 de dezembro de 2010

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